Deus tirou minha paixão e salvou minha vida!

Deus tirou minha paixão e salvou minha vida!

 

Sempre fui um apaixonado por motos. Nunca imaginei que houvesse um dia no qual essa paixão viria a se acabar, muito menos que essa decisão fosse tão repentina.

Minha primeira moto não era grande, uma 125 cilindradas, e foi comprada com ajuda do meu pai. Tinha 19 anos e estava servindo o exército. O meu posto de serviço era no forte da cidade, local 20 quilômetros distante de onde morávamos então, pensando em todo tempo em ônibus ou na incessante luta por caronas, meu velho me encorajou nessa aquisição.

Foi amor à primeira vista.

Era o máximo, uma sensação maravilhosa. Sentir o vento batendo era como estar voando baixo. Minha noiva e eu adorávamos passear com ela.

Os anos foram passando, e desfiz dessa primeira paixão alguns anos após casar. Precisava dar mais conforto para minha família, principalmente após minha filha nascer.

Por muito tempo desejei poder reaver esse sonho.

Por anos e anos ficava namorando essas gatinhas de duas rodas.

Até o momento em que, finalmente a oportunidade apareceu.

Saí de uma grande empresa que trabalhava e, com parte da rescisão, dei entrada numa moto 300 cilindradas novinha.

Nossa.

Foi a coisa mais aguardada daquele ano.

Meu pai já estava aposentado e, como eu não estaria em casa para recebe-la, pedi para que a entrega fosse feita na casa do meu velho.

Cheguei a ficar alguns dias sem dormir, tamanha era minha felicidade.

Quando chegou, fiz o primeiro teste nela. Uma maravilha.

Por alguns anos minha esposa e eu aproveitamos e muito ela. Viajamos, passeamos e curtimos.

Outra pessoa que se encantou com ela foi minha filha. Ela já estava com quase 10 anos e também curtia essa sensação. Como era uma moto muito potente, gostava muito de velocidade.

Por algum tempo foi o ápice da minha realização.

Porém, houve um tempo em que me distanciei dela. Deixava-a guardada na casa do meu pai ou do meu sogro. Não era por nada mais, somente por falta de tempo mesmo. Parecia que Deus não estava permitindo ter esse tempo com ela.

Numa certa noite, após vir de uma viagem de 150 quilômetros com minha esposa em nossa moto, cheguei muito cansado em casa. Tomei banho e fui para cama. Adormeci rapidamente.

Foi quando algo estranho aconteceu.

Naquela noite acordei com um burburinho, como se houvessem muitas pessoas na minha casa falando bem baixinho. Também podiam ser ouvidos soluços e muito choro.

Levantei assustado com aquilo. Estava apenas de cueca.

Abri a porta do meu quarto e dei de cara com toda minha família, esposa, filha, mãe, pai, sogros, cunhados, irmã e alguns amigos, todos na sala da minha casa chorando muito. Quando virei em direção ao centro da sala, pude ver que se tratava de um velório. A cabeceira de um caixão de mogno escuro estava amparada por um par de velas e uma cruz. Fiquei perplexo. Mesmo vestindo apenas roupas intimas, fui em direção ao caixão. Queria saber quem estava sendo velado em minha casa. Ao me aproximar, encostei no véu e, nesse instante, acordei.

Assustado levantei da cama e olhei pro lado, minha esposa estava dormindo tranquilamente. Sem hesitar fui correndo a sala. Tudo escuro e apagado. Havia realmente sido um sonho. Percebi então que meu coração estava acelerado e meu corpo completamente molhado de suor. Passei no quarto de minha filha e a vi dormindo, dei-lhe um beijo.

Voltei para a sala, me ajoelhei e fiz uma oração. Orei até o dia amanhecer. Naquele momento pedi a Deus que, independente do que aquilo significasse, que protegesse minha família e eu de tudo que não fosse fruto de suas bênçãos.

Voltei a dormir.

No dia seguinte fui ao encontro de minha sogra em sua casa. Ela é uma pessoa muito abençoada e, assim como eu, também costuma ter sentimentos estranhos e inquietantes.

- Bom dia minha sogra.

- Bom dia meu filho.

- Sogra, tive uma noite muito ruim. Estou com um sentimento horrível. Tive um pesadelo desolador.

- Olha meu filho, também não dormi muito bem. Da mesma forma estou muito angustiada. Mas conte o seu sonho.

- Não, deixo a senhora falar primeiro.

- Então tá. Sonhei que estava e meu quarto e haviam muitas cobras subindo pelas escadas e pelas janelas...

Interrompi ela.

- Olha, nem precisa terminar. Deixa-me contar o sonho que tive.

E a contei com todos os detalhes.

- Meu filho, faça muita oração. O que quer que seja, está repreendido em nome do senhor.

E mudamos de assunto, mas aquilo não saiu de minha cabeça.

Alguns dias depois, voltei a casa dos meus sogros. Falei a minha esposa que pegaria a moto que lá estava e daria uma volta, passaria na casa dos meus pais e iria em casa.

Sempre gostei muito de pescar e sempre que sabia de um local que houvesse pescadores costumo ir.

Fui até uma praia próxima, mas não encontrei ninguém lá, então acelerei minha moto até a casa dos meus pais. Como já era tarde, ao passar na frente da casa deles apenas buzinei, até pensei em parar, mas passei direto.

Saí do perímetro urbano e peguei a rodovia em direção a minha casa.

Estava a uns 50 km/h, queria realmente apenas passear com minha moto.

Antes de chegar em casa vi um caminhão vindo, talvez a uns 60 km/h no sentido contrário, algo muito comum, pois moro numa cidade portuária.

O incomum aconteceu em segundos.

Sou caminhoneiro e percebi algo errado. O eixo traseiro da carreta estava soltando, era perceptível em seu movimento irregular. Estava passando bem próximo quando, em questão de segundo, quebrou-se, soltou e veio em minha direção junto com estilhaços da parte mecânica e muita graxa.

Repentinamente soltei o acelerador, coloquei meus braços no rosto e fechei os olhos. Naquele momento só precisava aguardar a batida, nada mais passava em minha cabeça.

Senti algo passar raspando pelo meu corpo.

Rapidamente abri meus olhos e vi o eixo que havia saído do caminhão continuar o caminho após passar por mim. Ele bateu em uma proteção, foi ao céu e caiu.

Parei a moto e percebi os estilhaços e partes mecânicas todas cravadas no chão bem próximo a mim.

Fiquei sem compreender a situação.

O caminhão havia parado alguns metros a diante. Liguei a moto e fui em direção ao motorista.

O motorista estava com os braços cruzados em desespero, chorando.

Bati na porta e me atendeu. Quando me viu, caiu em choro novamente.

- Garoto! Me perdoe! Quase te matei! Meu Deus, perdão!

- Calma amigo, estou bem.

- Acabei de sair do mecânico, estava dando uma geral exatamente naquele eixo. Estava tudo revisado.

Mesmo com tudo aquilo eu estava calmo. Queria ajudar aquele motorista.

- Se acalme senhor! Quer ajuda?

- Não, não, meu filho. Vou ligar para o mecânico.

Foi nesse momento que percebi que estava cheio de fuligem e graxa pela roupa. A camiseta era nova, havia ganhado da minha esposa naquele mesmo dia.

Um amigo meu que trabalhava de guarda num pátio de contêiner ali perto veio correndo na minha direção.

- Cara, achei que tu tinha morrido! Vem ver o que houve!

Me levou até a sala de monitoramento e selecionou a câmera da empresa virada exatamente para o ponto que houve o acidente.

No exato momento do acidente, a câmera travou e não o registrou.

O guarda ficou indignado. Eu simplesmente me despedi, voltei a moto e fui para casa.

Naquele pequeno tempo comecei a pensar em tudo que havia passado.

Ao chegar em casa, minha esposa me viu e começou a brigar comigo.

- Meu Deus né, não consegue sair sem se sujar...!

E falou mais um monte.

Deixei-a terminar e aí contei o que houve. Ela ficou perplexa e começou a chorar.

Fui para o banho, me lavei bem, tirei toda graxa e fuligem e, naquele instante lembrei do meu sonho.

Ao sair do banho fui direto a casa de minha sogra, precisava falar com ela.

Cheguei lá, encontrei ela e contei o que tinha acontecido. Também ficou incrédula.

A partir daquele momento comecei a perceber qual era o motivo da minha distância da moto nos últimos meses. Também entendi que aquele funeral era o meu, se não deixasse essa paixão para trás.

Foi instantâneo. Deixei aquele sonho. Não consegui mais sentir paixão por motos.

Rapidamente coloquei a venda.

Ninguém entendeu muito bem o que houve, mas não precisava.

Era uma mensagem de Deus para mim, não para outra pessoa.

Deus havia tirado minha paixão por motos para salvar minha vida.

 

Testemunho de Fábio Corrêa escrito por Alberto Neto.