Mudanças e Permanências em meio a PANDEMIA

MUDANÇAS E PERMANÊNCIAS EM MEIO A PANDEMIA

Dermival Silva

Professor de história – Especialista em educação

 

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo passou a viver uma Nova Ordem Mundial em que a globalização e a doutrina neoliberal passaram a ditar a regras na economia e por extensão impactar nas relações sociais, principalmente após o colapso do socialismo com a desintegração da União soviética no início da década de 1990. Este modelo globalizante tem como motor condutor o fluxo de mercados e pessoas pelo mundo promovendo além da fusão de culturas o contato entre diferentes etnias, aspecto este que contribui para a disseminação e transmissão de doenças pelo mundo. Este fator foi determinante para que a COVID-19 se tornasse uma pandemia quase que incontrolável.

Se para muitas pessoas a quarentena passou a ser uma oportunidade de introspecção e reflexão junto a sua família, para a maioria da população, principalmente jovens, as mudanças vêm promovendo transformações profundas em suas vidas. Pesquisa da OIT (organização Internacional do trabalho) revela que um em cada seis jovens perderam o emprego neste período.

Para pensarmos o mundo durante e pós pandemia, analisemos onde estávamos antes dela. Vivíamos num mundo adoecido e em plena exaustão no que se refere às relações sociais, a crise de valores, e na relação com a natureza. Vivíamos uma relação conflitante em nossa sociedade, os altos índices de suicídio e a desestruturação familiar são apenas dois aspectos que desmontam isto.

Os recursos da natureza são finitos num modelo de produção linear (ver vídeo ¨A história das coisas¨). Vivemos num mundo com mais de 7 bilhões de seres humanos. Esse crescimento populacional, segundo especialistas, só se reverterá por volta de 2080 ou 2.100 quando seremos 10 bilhões de habitantes. Esse descompasso entre o que queremos e consumimos e os recursos que a natureza nos oferece causa deformações nas relações sociais e desequilíbrios ao meio ambiente.

RELAÇÕES SOCIAIS

O mundo depois da pandemia não será mais o mesmo. O vírus originário da China exigirá mudanças comportamentais, governamentais e institucionais. A natureza e o ¨outro¨ terão que ser vistos com novos olhares, não somos mais sociedades tribais há muito tempo, portanto, é chegada a hora de mudanças profundas. Não deu certo até aqui e precisamos nos reinventar.

As consequências que o Coronavírus trará norteará uma Nova Ordem Mundial e toda mudança gera desconforto, transtornos e resistências e o resultado disso estará relacionado diretamente a como cada país lidou com a pandemia e quais mudanças as sociedades se sujeitarão a promover em suas vidas de agora em diante. Nas relações sociais teremos que remodelar nossas atitudes e ações em relação ao ¨outro¨, e também em relação ao trato e uso dos recursos da natureza. Precisamos viver em harmonia com o outro e de forma sustentável com a natureza.

A poetisa e filosofa Viviane Mosé alerta que ¨não sabemos viver com a diversidade e teremos que aprender¨. Além de atitudes individuais, práticas governamentais precisarão ser revistas e reordenadas para nos ajustarmos a uma Nova Ordem que se estabelecerá. As grandes transformações começam com mudança de hábitos. Mosé defende que ações totalitárias, que remetem a valores únicos, não cabem mais num mundo que precisa se humanizar e aprender a conviver na diversidade rapidamente a ponto de sairmos das ¨canaletas¨, como ela se refere às regras e condições que vivemos atualmente.

A somatória de atitudes e hábitos individuais resultam em mudanças maiores e para isto, a preocupação com o coletivo terá que fazer parte das nossas atitudes e ações. Michel Foucault define este novo paradigma como ¨micro política¨ para o filósofo é preciso haver mudanças pequenas para chegarmos as mudanças maiores, estruturais e duradouras.

ECONOMIA

No âmbito econômico, a China é candidata a se tornar a maior potência hegemônica do mundo. Se antes da Pandemia isto já se vislumbrava agora parece que será irreversível o surgimento de um novo protagonismo na economia mundial. Deixando de lado ¨teorias da conspiração¨, sobre a origem do vírus, que não podem ser descartadas, na prática, a China vem crescendo em média 3% enquanto os Estados unidos está em recessão técnica. A preocupação, e até o temor, da comunidade internacional é saber como Estados Unidos irão assistir e tratar esse novo cenário mundial.

EDUCAÇÃO

Na educação, quando a normalidade voltar teremos, necessariamente, mudanças tanto por parte de alunos como da família e do professor. Verificaremos muita assimetria e distorções no aprendizado, alguns, terão se apropriado de conteúdos estratégicos e outros nada terão aprendido. A certeza que tenho é que as pessoas terão que aprender a prender e a lidar com situações fortuitas e inusitadas. Saber fazer o óbvio não será mais um diferencial entre o sucesso e o fracasso. O Historiador Leandro Karnal alerta que ¨a vida é feita de surpresas e quem lidar melhor com os desafios será o profissional bem sucedido do futuro¨. Quem se contentar em ser bom e fazer o óbvio será substituído por algoritmos e pela inteligência artificial, conclui o historiador. 

MUDANÇAS COMPORTAMENTAIS

Diante desse quadro, fazer previsões seria precipitação para não dizer um erro, contudo, algumas perguntas podemos fazer: Que caminhos a sociedade irá trilhar? Aprenderemos de uma vez por todas que temos que equilibrar nossas relações e uso dos recursos da natureza? Aprenderemos a viver na diversidade? A afetividade dará lugar à insensibilidade e à intolerância? Estas são questões que terão, necessariamente, que ser incorporadas ao nosso cotidiano nesse mundo em transformação, sejam elas promovidas pelo ser humano ou por forças da natureza.

 Dermival Silva

28 de Julho de 2020